Dia de fúria em Skopje

Cheguei em Skopje, capital da Macedônia, por volta das 20h e fui andando até o hotel. Costumo usar o Google Maps que, dessa vez, me jogou longe do meu alvo. Completamente perdido, pedi ajuda em uma padaria/boteco onde dois sujeitos conversavam na porta. O macedônio também tem palavras em comum com o russo e com qualquer outra língua eslava, então a comunicação fluiu na medida do possível. Os dois riam muito de um brasileiro perdido na Macedônia em plena Copa do Mundo 2014. Ri junto.

Perguntaram-me se era da Al-Qaeda ou de algum grupo terrorista e, na negativa, correram então para um Lada velho e me apontaram: “levamos você até lá”. Como nossos pais ensinaram: “não se deve entrar em carro de estranhos”. Entrei. Eles também se perderam. Falavam de Feitosa e um outro sujeito brasileiro, aparentemente mestres do jiu jitsu – desculpem a ignorância. Fingi que conhecia.

“Neymar quem? Fei-to-sa!”, dizia o sujeito forte no banco de trás.

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Música búlgara em Orhid

Cheguei em Orhid, pequeno balneário à beira de um lago, no sul da Macedônia e cidade fronteiriça com a Albânia. Muita gente sabe que eu sou louco por música dos Balcãs. Como eu sou um sortudo da porra, cheguei desavisado no primeiro dia do Ohrid Balkan Festival 2014.

Bandas macedônias, sérvias, búlgaras, croatas e o colaborações da Austrália, Polônia e Israel também vieram e estão se apresentando nas ruas e em um antigo anfiteatro grego. Em Sófia, procurei por coros búlgaros para assistir e nada. Chegando aqui em Orhid, foi justamente uma banda búlgara a primeira a dar as graças no palco, pondo fim à minha breve frustração.

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A lenda do camelo

Conheci Dagoberto na região de Afar, no deserto de Danakil (Etiópia), onde ele trabalhava carregando blocos de sal retirados do solo.

“Meus filhos, agora vou lhes contar a lenda do camelo. Há muitos anos atrás, o camelo também era um animal forte e esbelto como também hoje são os leões e os elefantes. Deus, então, deu ao camelo chifres como recompensa pelo seu bom coração.

Mas, um dia, quando o camelo descansava placidamente junto à água, um cervo pediu ao camelo para lhe emprestar seus chifres. Queria enfeitar-se para uma celebração no ocidente. O camelo não viu motivo para não confiar nele e emprestou-lhe os seus chifres. Mas o cervo nunca voltou e os devolveu.

Desde então, os camelos continuam a olhar para o horizonte à espera do seu regresso. Assim é, meus pequenos. Assim, tão grande, é o coração de um camelo”.

(lenda mongol, texto do filme Camelos Também Choram*)

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A casa da vó

Há muitas casas de vó por aí. E quando se viaja, vez ou outra você está lá de volta, na placenta da placenta. A dois fetos de distância, a matriarca da família Iguarán-Buendía oferece biscoitinhos e conselhos e obriga-o a agasalhar-se dentro de casa com cobertores velhos que certamente irão causar-lhe alergia.

Os panos da casa não combinam. Há um bicho de pelúcia gigante na sua cama, duro e vagabundo, arrematado em uma daquelas máquinas que pinçam brinquedos para crianças na vendinha perto de casa. O pobre urso cabisbaixo compõe o ambiente com uma colcha quadriculada, um tapete com motivos persas e uma almofada indiana com pequenos espelhinhos costurados no tecido e que arranham seu corpo levemente, o que o faz virar a almofada de cinco em cinco minutos. Cortinas são sagradas. O ambiente é levemente escuro. Vinho, marrom, verde-musgo, mas são o bege ou qualquer outra cor pastel os escolhidos para ocupar as grossas paredes da casa.

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Novos protestos em Istambul

Hoje Istambul acordou mais policiada do que deveria. Faz exatamente 1 ano em que cerca de 2 mil pessoas se juntaram no Parque Gezi (que fica dentro do Taksim) para impedir sua destruição e construção de um shopping. O que levou as pessoas às ruas, em seguida, foi um misto de insatisfação com um governo conservador, islamista e extremamente autoritário e que já levava 10 anos no poder. Aqui, a polícia também atuou como no Brasil, reprimindo com violência, despreparo, matando alguns e ferindo muitos.

Veja fotos do dia.

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15 apps para suas viagens

O ideal é que você desligue de vez o seu celular. Como eu sei que você não fará isso (como eu também não fiz), vamos a uma listinha interessante de aplicativos que vão fazer da sua viagem algo diferente, ajudando a descobrir novos lugares e a conhecer as cidades pelas quais você passa.

Posso adiantar que aplicativos como World Lens e Field Trip são de cair pra trás e podem transformar sua experiência. Continuar lendo

Torre de Babel

Tempo de leitura: 6 minutos. Eu sei que você consegue.

No mundo todo havia apenas uma língua, um só modo de falar. Saindo os homens do Oriente, encontra­ram uma pla­nície em Sine­ar e ali se fixaram. Disseram uns aos outros: “Vamos fazer tijolos e queimá-los bem”. Usavam tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa. Depois disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso ­e não seremos espalhados pela face da terra”. – Gênesis 11

Ajourd’hui, Djibouti, 2014

Você está sentado trabalhando na recepção de um hotel, na cidade de Djibouti. Passa um dos estrangeiros, vira o torso em sua direção, mas continua andando. Você vê a cena em câmera lenta. O rosto se aperta num sorriso falso, os olhos diminuem, as bochechas se inflamam e a boca começa a se abrir. Um sopro imperceptível passa leve e veloz pela garganta, esbarrando em pequenas e finas cordas, chegam a uma cavidade escura, úmida e instável, e, por fim, se debate à presença de um músculo flexível e furioso. Um som vem de lá. A mão estendida no ar, um aceno de Miss Universo e… “Hojeeee!!!”, diz o turista entusiasmado e confiante, que sai rapidamente pela porta do hotel. Você espera por alguns milissegundos uma continuação. “Hoje o quê?”, pensa. O dia continua. O tal turista mistura bonjour com aujourd’hui. Andando, já distante do hotel, se dá conta do erro. Ri e continua o caminho. Continuar lendo

A linha invisível entre Etiópia e Djibouti

Leitura: 7 minutos. Senta que lá vem a história.

Ao chegar em Dire Dawa, leste da Etiópia, ouvi a notícia de que o trem que leva ao Djibouti tinha sido reativado. Não funcionava todos os dias da semana, mas era uma opção boa para quem não quer enfrentar os solavancos de um ônibus atravessando o deserto.

Uma jornada que podia levar de 12 a 20 horas dependendo das paradas e procedimentos na fronteira. “Se o trem não tiver nenhum problema, você pode chegar lá às 18h”, me avisava o vendedor do bilhete, radiante. “Sai às 3 horas da manhã”, completou.

A cidade estava sem luz. O hotel não tinha mais água. Tomei um banho de cuia às escuras. Uma ratazana atravessava a luz amarela projetada pelas velas no chão do hotel. Chovia um pouco lá fora. Resolvi não sair para comer e dormi cedo. Às 2h30, levantei-me depressa, deixei as chaves na bancada e fui para a estação.

Não havia ninguém. Continuar lendo

Quanto custa viajar pelo mundo?

Vamos levar isso como uma introdução sobre o assunto, ok? #comofas

Primeiras considerações:

1 – Você não precisa ganhar na loteria, nem vender seu corpo em Copacabana.

2 – Se você tem um carro e pode vende-lo, pronto, pode dar o fora. O carro é muito ruim? Aguarde a próxima rodada e volte 5 casas.

3 – … ou venda drogas e rins por um ano, que foi o que eu fiz.

4 – Se você ganhou na loteria e/ou vendeu seu corpo em Copacabana, dá pra viajar com um pouco mais de classe e conforto.

Vamos no chute e depois entramos nos detalhes: considerando uma grande viagem por todos os continentes, incluindo países mais caros, é possível manter a média de U$50 por dia (ou menos), com alguns pequenos sacrifícios. O óbvio precisa ser dito: seu orçamento vai variar de acordo com os seus interesses, países em que quer viajar, necessidade de conforto, meios de transporte, tempo…

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