Das cores que a gente perdeu

Visitando a Grécia e Turquia, onde se concentram as maiores obras ainda observáveis de tradição helênica, é possível ver ainda – quando alguém chama atenção para o detalhe, claro – um resquício de pintura em uma ou outra peça. Pois é, ao chegar muito perto daquelas tradicionais esculturas de mármore branco, chega-se à estranha conclusão que os artistas da época não o queriam propriamente branco. Aparentemente, muitas das as esculturas gregas e romanas eram sim pintadas e com cores fortes.

Com o uso de raios ultravioleta e luz negra, arqueólogos conseguiram encontrar as cores originais. Segundo um artigo de Christopher Reed, na Harvard Magazine,  esse processo “pode dar ideias de padrões de pintura mesmo que os pigmentos não tenham sobrevivido”. A pintura dessas reproduções parece ser extremamente fina, fraca, com poucas pinceladas de óleo. “Pode-se identificar os colorantes – a maioria feita de minerais e plantas”, completa outro pesquisador, Ebbinghaus. “Se os minerais tivessem sido moídos com mais cuidado, com diferentes concentrações, a pintura tivesse sido polida ou coberta por alguma solução protetora, o trabalho teria um efeito bem diferente e duradouro”.

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Daniela Mercury, a Grande

Era o ano de 330 AC. Foi com sangue nos olhos que Alexandre, O Grande, invadia, destruía, queimava e roubava sem pudor a famosa joia do deserto, que os gregos nomearam como cidade dos persas, Persépolis. O nome original: تخت جمشید Takht-e Jamshid (“o trono de Jamshid”).

Contou-me um comerciante local que a história segue assim. Chegando ao topo da montanha mais próxima, o imperador riu, soberbo. Falava sozinho, especulando sobre seus novos títulos. Passava a mão sobre a barba, pensativo: “xá da Persia… ou xá da Ásia. Alexandre Magno, xá da Ásia. Gosto disso!”. Gargalhou amalucadamente. Silenciou de súbito. Relembrou por instantes, vingativo, a destruição de tantas cidades helênicas. Seu rosto se fechava, exibindo olhos semicerrados e a arcada trincada à medida que seus pensamentos voltavam à acrópole em chamas.

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Os monastérios suspensos de Meteora

O que fica na Grécia e não é ruína, protesto, praia, iogurte ou ilha? Muita coisa. Bem, Meteora entra nessa lista. Apesar de um lugar de beleza única, é pouco frequentado por turistas do exterior, em comparação ao restante do país.

Meteora tem esse nome justamente porque está “suspenso no ar”, “no meio do céu”, mesma origem da palavra “meteoro”. Trata-se de uma cadeia de montanhas esquisitas com um dos maiores e mais importantes complexos de monastérios da Igreja Ortodoxa. A comunidade de monges que se estabeleceu ali desde o século IX, com os primeiros monastérios sendo construídos nos séculos XIV, teve a grande ideia de fazer as construções em lugares absolutamente inacessíveis: bem no alto dessas montanhas, como proteção às invasões otomanas (turcas).

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